Maria Callas |
Ópera Deprimente
Você me aparece uma imagem de mulher
Busco explicações
Há no mar algo que invoca você ?
No útero do oceano
Nas profundezas das águas salgadas e insanas
Há um tesouro comparável à tua alma ?
Você me descreve em aparências
Doces verticais de saudade
Quero lançar-la fora do alcance dos meus olhos
E devorá-la com meus pensamentos
Quero castigar o mais súbito do rei
E entregá-la aos teus pés.
Quero me abominar com a ilusória imagem do teu rosto
E descrevê-la como os montes em ruínas absurdas
Descrever teus lábios como a fria lápide
Que despede palavras, vidas e partidas
Subornar a retina, distorcer a visão.
Descrever os teus lábios
É provar o cálice amargo que me enfarta
Da abstinência que injeta o veneno da saudade em minhas veias
É sugar todo licor de uma flor
O mar e seus segredos...
O verde das tuas pupilas desnorteia
As teias do teu coração são cabos que entrelaçam o meu destino
Tua imagem é utopia estúpida do autor
É decadência de usurpadores inconscientes
É terra bruta explorada pelos deuses da pintura.
Descrever as investidas dos ventos
A ousadia dos assanhados dos teus cabelos
Eleva-me a tortura do acariciá-los
Confunde a tua juventude com a repugnância da minha experiência
E torna-me a existência dos mortais.
Descrever teu sorriso é a intolerância de um discurso mudo
É a essência de uma ópera deprimente
É a pressa dos amantes que se atiram no precipício do prazer.
Condena-me a perpetuidade da tua beleza
Compará-la ao mar e aos montes em ruínas
Deveras, me faz louco em pensar
Que te possuir está além da minha onisciência.
Marcelo Henrique Zacarelli
São Paulo, Janeiro de 2011 no dia 07
Condena-me a perpetuidade da tua beleza... |
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