22 junho 2019

Mentecáptos - Poema de Marcelo H. Zacarelli


Mentecáptos

No registro negro
As onze e quarenta e hum
Ninguém caminha no corredor, só o medo
Mentecáptos jogados ao chão
Olhares assustados e debochados
Aí vem mais um preso por pensão;

Muitos pelas grades derrotados
Borrados na parede de uma cela
O nome do Cristo em oração
O nome do filho e da esposa tão bela;

Escrevinhados num sofrido coração
A saudade é luxo no coração de um preso
A dor é luto em seus pensamentos
O homem se acaba em dores e lamentos;

Prioridade é loucura dentro da cela escura
Homens doentes não acreditam na cura
Filhos ceifados da sociedade, que só colhem maldades...

É assim a vida por de trás das grades
Até que certo dia vem à liberdade
Através da sorte ou talvez a morte;

Na vida de um preso tudo é sofrimento
A morte mais parece ser um descanso
Quase certo o fim do seu tormento.

Em memória dos dias 08/09 de Outubro de 2002
“Em uma cela no Distrito de Itaquaquecetuba (SP).” 

Marcelo Zacarelli
Itaquaquecetuba, 11 de Outubro de 2002.

Prioridade é loucura dentro da cela escura
Homens doentes não acreditam na cura


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